segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

(Des)encontrei

Aqui não está.
Procurei o apartamento todo.
Não, aqui não está.
Nem no mundo virtual, nem no fundo da geladeira,
Não adianta procurar.
Muito menos nesses versos,
Esses, só me falam do contrário.
Jogo aqui o que não tenho,
O que não sei, o que não sou.
Jogo em mim a certeza da incerteza
e aceito minha busca sem sentido.
Fujo porta afora pra um lugar que não importa
Flerto com o mundo e o convido pra dançar.
Nele, tudo se move.
A luz que se espalha por entre as árvores,
Me acolhe num frisson sensório.
Respiro fundo a brisa da rua, o cheiro de vida.
Assim solta, sem rumo, sem nexo.
Vida.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meta-iludidos

Mundo de plástico,
Tão falso quanto a ilusão pura que antes existia.
Agora vivemos na ilusão da ilusão.
Burlamos nossas vidas com chafarizes que se insinuam cachoeiras, 
Mas que nada são além de água pra cima.
Com o gel a bagunçar o cabelo dos jovens,
Que antes se contentavam com a escultura do vento.
Com as árvores crescendo perdidas e suas raízes tolhidas pelo meio fio.
Esse mundo que o mundo consagra,
Eu rejeito com toda minha força.
Nem toda essa gente aglomerada,
Cheia de sonhos e idéias,
Faz-me esquecer o concreto,
Frio, duro, reto,
Como nenhuma pedra jamais almejou ser.
Medido milimetricamente pela merda da simetria.
Simetria pra que os homens caibam nas gavetas que hoje habitam.
Um pedaço do céu que eles julgam ter por tê-lo trocado por papéis coloridos que julgavam importantes.
E nesse mundo realmente o são.
Camuflam nossa existência rasa e o não sentido que existe em viver.
Buzine!
Buzine porque os pássaros estão roucos com os ruídos da cidade.
Buzine pra que saiam da frente, pra que andem, pra que você passe.
Você será o primeiro a chegar na mesma merda que ficou lá atrás.
Você é o campeão, o grande campeão dessa futilidade toda.
Parabéns!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Aquilo que Nunca Soube

Era ela,
fiquei confuso, mas agora estou certo,
Era ela sim.
Era, e será que ainda quer ser?
Dói na alma sonhar viagens num trem que já partiu.
Partiu e levou de mim algo que eu não sabia ter (e ainda não sei).
Algo que ela me mostrou que existia,
Que eu nunca soube realmente o que era,
Mas que sempre me encantou.
É, ela transbordava disso.
E no fundo, era tudo que importava.
Foi... e hoje sua ausência caminha ao meu lado,
Ao lado disso que sobrou do que costumava ser eu.
Minha vida agora é um vão, um corredor vazio e sujo,
entre o que fui e o que nunca chegarei a ser.
Esperando estático pelo que está por vir,
mesmo que isso seja nada.
Hoje, eu não vivo mais.
Hoje eu só existo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nada à Vista!

Desisti de mim.
Vou embarcar hoje, mas deixo o resto contigo.
Faça bom proveito, porque eu não soube usar.
Não sei se por negligência, ou por excesso de vontade, sei que não deu certo.
Inauguro então um novo mim,
que sabe menos ainda sobre saber alguma coisa.
E rasgo as velas, o vento já não me importa mais.
Meu porto agora é o mar, pois é à deriva que se vive.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Escolhas

Tão difícil acreditar nos pequenos sentidos que proponho a minha vida.
Escolhas aleatórias com o intuito de chegar a algum lugar que nem sei se quero estar.
Busco por buscar, pra não ficar parado.
Teria a minha vida mais sentido que a do mendigo?
No mundo das escolhas, ele se focou nos pequenos desejos, e eu, sou escravo das grandes realizações.
Não desgosto de minhas escolhas, por vezes me preenchem, mas por vezes são só escolhas, escolhidas porque eu tinha que ir à algum lugar.
Paro, fumo. Não sei aonde vou chegar, não na vida, nesse momento.
Às vezes vejo “nela” o sentido, às vezes qualquer sentido me foge, e mais uma vez me vejo vivendo em vão.
Muitos planos, algumas realizações, mas mesmo assim, no fundo de mim, em vão.
Um corpo perambulando nesse grande sonho onde brincamos de ser o que não somos.
Preso nesse corpo, limitado a mim, esse “mim” que só chega até onde eu vou e nada mais.

A Dor que Eu Quero

Que dia você chega?
Não sei se quero que venha, mas por favor não demora.
Vou vivendo até você chegar, se é que você vem.
A saudade é tanta que um dia vou ai te ver.
Talvez assim a gente se conheça.
Busco seus traços na minha memória, mas não encontro.
Passam-me vários rostos pela mente, nem um deles é o seu.
Nunca te encontrei.
Cheguei a pensar que era você, mas estava confuso.
Quem dera meus olhos chorarem suas lágrimas, mesmo que em silêncio.
Cansado do fardo dessa existência rasa, solitário vagando na multidão.
De que me interessa outras mil paixões de verão?
Eu quero um amor arrebatador, sem fundamento, em má hora, pela pessoa errada, sem rédeas, que me deixe as pernas bambas, que me faça gaguejar...
Abandonaria sem hesitar sua ausência companheira.
No fundo conto com o seu atraso, sei que não estou pronto.
Rasgado entre a falta que você me faz e uma auto-suficiência do que imagino ser.
Ainda idolatro cegamente minha singularidade, mesmo na certeza de que minhas novidades, hoje rotineiras, já não têm o brilho de outrora.
Não sei se por opção ou por falta dela.
Falta sua, que por tantas vezes faltou aos nossos encontros.
Tantos bares, tantas festas, tantas boates, tantas viagens.
Tão pouco.

Lágrimas Fúteis

Qual o propósito de tudo? Sem desmerecer o valor das coisas me pergunto pra quê continuar o quê.
Não autorizo mais a fuga das lágrimas dessa angústia sem fundamento, eu nem as conheço.
Se assim o quiserem, elas que transbordem clandestinamente.
Vislumbro diariamente o vôo da janela sem a morte no final.
Qualquer novidade surpreendente, mesmo que ruim.
Qualquer coisa que me mostre vivo.
Quem sabe uma explosão.
Com sorte um meteoro.
Uma viagem interna e desgovernada rumo às lacunas da mesmice do mundo.
Cogito qualquer coisa que possa acontecer a qualquer um, ele poderia ser o próximo, quem sabe até você.
Nunca compro a passagem de volta na esperança de que novos ventos mudem meu rumo.
Qualquer lugar diferente do de sempre.
Contrarie-me, por favor! 
Coagi-me com argumentos que me façam sucumbir das minhas maiores certezas.
Antes fosse eu um cachorro de rua, que simplesmente vive, numa vida inútil, pobre e feliz.

Nada

Minha vida se afoga na mistura da falta com a certeza de nada.
Me desinteressei pelos meus sonhos, mas sei o valor que um dia tiveram.
Talvez espere um alguém que nem sei se conheço, que finjo não querer que chegue, numa tentativa desesperada de reafirmar minhas verdades que cada vez acredito menos.
Meu vazio... envolto por este mundo opaco e reluzente,
Ecoando sua indiferença afetuosa.
Questiono-me se eu somente gostaria que fosse assim.
Logo vi, não é assim, aliás, é também, é do jeito que for e no fundo, pouco podemos fazer.
Danço com os acontecimentos sem medo de pisar-lhes o pé,
Sem escorar na presunção egóica do potencial,
Descansado na inferença do resultado.
Quem é você transeunte, parente distante, melhor amigo?
O que almeja?
Com certeza algo mais nobre que meus desejos vis, mesquinhos e mundanos que de nada me servem.
Doe-me um pouco do seu universo, porque o meu está gasto.
Tantas vezes pensado e repensado, perdeu sua aderência.
Mendigo suas vidas pra preencher a minha.
Através dos outros me torno parte do todo, aproximo-me de mim, só que pelo lado de fora.
E enfim descanso.